Caldense Dj Ride & The Beat Bombers
10.04.2010
O hip hop foi sempre, por definição, o terreno do real, da rua, do concreto.
A metáfora, quando aflora nas rimas, é quase sempre para reforçar a ideia de realidade, por analogia.
Por tudo isto, é entusiasmante ver como um criador usa a música não para escapar dessa realidade, mas praticamente para inventar uma nova dimensão.
Ride é esse criador e «Psychedelic Sound Waves» é o novo capítulo na sua incrível e pessoalíssima viagem ao mundo dos beats.
Ride estreou-se com «Turntable Food» na Loop:Recordings, surpreendendo logo em 2007 com uma inédita mistura em que hip hop, funk, electrónica e mais qualquer coisa indefinível (“talento” é a palavra que alguns usam para isso) ousavam construir um espaço novo para si.
Seguiram-se vários outros capítulos interessantes, tanto no campo do djing (campeão nacional por quatro vezes) como da produção: editou «180 gr.», scratch tool que ganhou dimensão de vinil graças à aliança à plataforma Red Bull Home Groove e foi convidado por Henrique Amaro a integrar a primeira leva de edições da Optimus Discos com o EP Beat Journey, lançado em 2009.
Participação num registo dos Coldfinger ao vivo, no álbum de André Fernandes ao lado de grandes nomes do jazz como Mário Laginha ou Alexandre Frazão, produção do single de regresso de Kika Santos e remistura do novo trabalho dos Micro Audio Waves são outras adições dignas de nota a um currículo que soube sempre manter-se aberto ao desafio.
2010 promete agora ser um ano em grande. Um Ano Grande. Ride começa por lançar «Psychedelic Sound Waves» num novo selo, Rockit. Mas participará igualmente numa temporada do coreógrafo Rui Horta no CCB e será figura central no documentário Dig in Japan…
Mas a porta para essa nova realidade prometida com a viragem do calendário é mesmo «Psychedelic Sound Waves»: intenso e solitário exercício de criação onde Ride se coloca no centro de um universo de possibilidades: música electrónica onde samples e teclados vintage se cruzam num esforço para erguer um bounce próprio onde as regras pouco significam – drum n’ bass tocado pelo ruído e pelo improviso, ácido funk criado por quem tem tido uma dieta rigorosa de rock psicadélico, library music abstracta e free jazz (Ride nunca vira a cara ao inesperado quando toca a discos coleccionados no terreno do diggin’), hip hop do lado de lá do espelho wonky, onde os beats recusam a quadratura dos padrões quantizados e buscam o soluço próprio da rugosidade de outra realidade.
Outra dimensão.
Ride já passou para o lado de lá: «Psychedelic Sound Waves» é o portal que podem usar para fazer o mesmo.