«Chouz»
30.05.2010
Uma bailarina calçada descalça-se, volta a calçar-se, explora um espaço e um tempo de dança…
O sapato é apenas um objecto? Um objecto útil, que protege do frio? O pé de Cinderela responderia que um sapato mudou a sua história. Este objecto, que hoje em dia existe em todas as formas, todas as texturas, todas as cores, já não é mais do que uma necessidade. Não reflecte também o desejo?
“Chouz” elegeu «considerar» este objecto como um companheiro, dar-lhe vida e voz, história e personalidade.
O que existe de mais estético e sensual que um pé vestido com um sapato de mulher a bambolear-se na sua trajectória…?
O que existe de mais cómodo que a ausência de um sapato que dá lugar à liberdade de um pé nu…?
O que existe de mais musical que um sapato de flamenco ou de sapateado, que bate na madeira do chão…?
O que existe de mais improvável que um sapato com o qual não se possa andar…?
O que existe de mais zangado que um sapato que escolhe o seu próprio destino sem ser consultado…?
“Chouz” é um passeio [a pé] num universo povoado de objectos naturalmente insólitos, um universo onde a ópera namorisca com o jazz, onde a surpresa é uma resposta ao desejo e às expectativas, onde o excesso se iguala à sobriedade de um branco e preto, apropriado do universo das comédias musicais.
“Chouz” é um objecto de dança, uma dança de objectos, um espectáculo que também nos reporta ao cinema de animação e ao teatro.
"Desde há muito tempo que a minha vida, e também os meus armários, estão cheios de sapatos de todas as cores, de todas as formas, para todas as ocasiões e para todos os destinos.
Diríamos…Anseio de colecção? Obsessão? Pouco importa, pois é um universo que me rodeia e me leva a numerosas aventuras que adoro partilhar. Gosto de caminhar com todos aqueles que, como eu, se deslumbram perante um par de sapatos doces, tímidos, impertinentes, ruidosos, demasiado pequenos, demasiado grandes, demasiado altos, demasiado bonitos…
Tinha igualmente de partilhar o meu gosto pelo design. Como desenhar dentro do espaço, com volume? Escolhi o preto e branco, os pontos e um cenário que se transforma pouco a pouco até chegar a um desenho.
Não é a primeira vez que utilizo o objecto como companheiro. Gosto de dar de vida e história aos objectos. Gosto do universo poético e surrealista que este provoca. Gosto de provocar a imaginação do espectador e surpreendê-lo."
Nathalie Cornelle