Ferreira da Silva defende “mais imaginação e coragem” na cerâmica
03.02.2009
Várias dezenas de pessoas acorreram à homenagem a Ferreira da Silva que teve lugar no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha no primeiro dia de Fevereiro.
Familiares, amigos e representantes de diversas entidades locais e regionais fizeram questão de estarem presentes numa cerimónia que se realizou dois meses depois do mestre celebrar os seus 80 anos de idade (1 de Dezembro 2008).
“Sou um fazedor de objectos e não um falador”, começou por dizer Ferreira da Silva, visivelmente emocionado ao longo da cerimónia. Acabou por isso por falar mais no trabalho dos seus colegas e amigos, mestres Eduardo Nery e Querubim Lapa.
Falou também na crise da cerâmica. Para Ferreira da Silva o segredo para ultrapassar esta crise será “mais querer, mais imaginação e mais coragem”. Isto para que na cerâmica se realizem “mais objectos de arte que marquem o nosso tempo e as pessoas do nosso tempo”, dando continuidade à obra de Rafael Bordalo Pinheiro.
O mestre Querubim Lapa prestou a sua homenagem a Ferreira da Silva “que tem lutado muito para que a cerâmica em Portugal tenha hoje a plenitude e extensão que merece”.
Querubim Lapa salientou a importância das Caldas da Rainha na cerâmica nacional e lembrou que foi Ferreira da Silva que “renovou” a Secla, enquanto ceramista e artista plástico.
“Somos artistas diferentes, com perspectivas e métodos de trabalho diferentes, mas eu vejo nele aquilo que talvez gostasse de ser”, disse Eduardo Nery sobre Ferreira da Silva.
O mestre gostaria que fosse feita uma retrospectiva de Ferreira da Silva para que fosse possível conhecer melhor a sua obra. Segundo João Bonifácio Serra, tem sido o próprio Ferreira da Silva que tem vindo a recusar a hipótese de se fazer uma retrospectiva.
No entanto, nesse mesmo dia foram apresentados uma série de diapositivos de imagens recolhidas de obras de Ferreira da Silva.
No âmbito da conversa que decorreu depois da exibição do documentário “Gravura, esta mútua aprendizagem”, João Bonifácio Serra deixou o desafio para que se pense na possibilidade de se construir nas Caldas da Rainha um novo museu de cerâmica contemporânea.
É um equipamento “que falta em Portugal e que, do meu ponto de vista, melhor se justificaria nas Caldas do que em qualquer outra região do país”.
O mestre Eduardo Nery lembrou que já existe o Museu da Cerâmica nas Caldas, mas que este poderá vir a ser ampliado de modo a serem criadas as condições para o projecto que Bonifácio Serra falou.
Querubim Lapa também se manifestou agradado com a possibilidade das Caldas ter um papel ainda mais preponderante na divulgação da cerâmica.
O presidente da Câmara das Caldas também acha que o mais importante é ter um museu o mais representativo possível da cerâmica. Até porque está prevista uma ampliação do actual equipamento.
No final da cerimónia foi inaugurada a peça escultórica do artista, intitulada "Orgósmico IV, que ficou colocada no átrio de entrada do CCC. “Estou numa fase em que há vários materiais todos agregados. O alumínio, vidro, aço, alguma cerâmica e uma pintura”, explicou.
Esta é a primeira peça que o artista realizou para a Câmara das Caldas da Rainha, no âmbito de um contrato que prevê a realização de vários trabalhos para a autarquia, que irá disponibilizar um espaço de trabalho e apoiar a produção de projectos novos a criar pelo mestre Ferreira da Silva.