João Garcia Miguel numa conversa no CCC
05.03.2009
A frase foi proferida por João Garcia Miguel no Cheap ‘n Chic Café do Centro Cultural e de Congressos na tarde de 28 de Fevereiro.
O “À Conversa com… João Garcia Miguel” aconteceu para concluir a participação do artista na iniciativa “Paredes de Cor”. Durante dois meses foi montado um “puzzle” com seis quadros numa das paredes no café concerto do CCC.
João Garcia Miguel começou a sua intervenção destacando a importância da existência de um equipamento cultural como o CCC nas Caldas da Rainha, que passou a ser uma cidade diferente desde a sua abertura.
O artista congratulou também o CCC por ter à entrada do edifício uma “magnífica obra” do mestre Ferreira da Silva. “É uma obra que demonstra a qualidade do trabalho de Ferreira da Silva que, provavelmente, passa ao lado dos nossos críticos, mas que desenvolvendo uma obra que a seu tempo será reconhecida devidamente”, afirmou.
Tem sido também no CCC que João Garcia Miguel tem apresentado trabalhos nas várias vertentes em que se manifesta, do Teatro à Pintura.
Docente de Teatro na ESAD e encenador, João Garcia Miguel começou por seguir o curso de Pintura na Escola de Belas Artes, em Lisboa. Desiludido com o que encontrou, demorou 11 anos a terminar a sua licenciatura e durante esse tempo envolveu-se em inúmeros projectos, também na Música. “Mas sou um péssimo músico e quando o Punk acabou deixei de conseguir disfarçar isso”, contou.
Influenciado por um professor de Fotografia, decidiu parar durante algum tempo com o curso para viajar e ver “in loco” obras de arte por toda a Europa. “O impacto que as obras causam ao vivo é muito diferente, principalmente para quem quer criar. Têm uma mensagem humana que a reprodução em fotografia ou vídeo anula completamente”, disse.
Tudo isto acabou por ser importante para a sua própria expressão plástica. Segundo o artista, quando pinta deixa de pensar e de se preocupar com a realidade. “A pintura é uma espécie de entrada oblíqua sobre a nossa alma”.
Nos primeiros anos em que começou a pintar, lembra-se que durante o processo criativo nem conseguia falar com outras pessoas.
Foi depois através da pintura que entrou no mundo do Teatro. Começou por fazer parte de perfomances nas suas exposições, sempre com um carácter provocativo. Ambas as áreas acabam por se influenciar entre si.
Entretanto, em 1991, foi convidado para fazer a encenação de uma peça para um grupo de teatro de Almada. Esta peça foi muito premiada e isso fez com que enveredasse pelas artes performativas, tendo sido um dos fundadores e director artístico do grupo de teatro “Olho”, que desenvolveu uma série de projectos. “Foi, de alguma forma, uma segunda universidade”, considera, até porque desenvolveram um trabalho inovador nas artes perfomativas.
Com a saída do “Olho”, que lhe tomava todo o seu tempo como produtor, começou a trabalhar em nome individual e a desenvolver o seu trabalho em várias expressões.
A sua carreira como encenador tem vindo a ser cada vez mais reconhecida. O encenador foi galardoado com o prémio “Foment de las Artes i del Disseny (FAD) – Sebastián Gash 2008” pelo espectáculo Burgher King Lear (que também esteve em cena no CCC).
A 20 e 21 de Março o CCC vai receber a peças “As Criadas”, de Jean Genet, numa leitura renovada de João Garcia Miguel, que sobe ao palco com Anton Skrzypiciel e Miguel Borges.
Duas criadas decidem matar a sua patroa e a partir daí fala-se da questão do poder e o conflito entre vida e morte, que ressurgem num jogo de linguagens que desencadeia a reflexão sobre os labirintos que enformam a condição humana. “É uma reflexão da escravatura da Democracia e das formas de poder contemporâneas”.
Só recentemente João Garcia Miguel voltou a dedicar-se à pintura, tendo apresentado os seus trabalhos em Madrid, nas Caldas da Rainha e outros locais.
Aceitou o desafio de participar na iniciativa “Paredes de Cor” do CCC, apresentando seis quadros que têm também um carácter performativo ao apresentarem um “puzzle” montado ao longo de dois meses.
Até ao final de Abril a artista convidada para a “Paredes de Cor” é a fotógrafa Fernanda Carvalho.
“Uma visão de actriz fora de cena com adereços teatrais é um imenso risco, apenas podendo ser atenuado por um invulgar talento como modelo e por uma extraordinária beleza. Tudo isto reúne a Sílvia Santos”, conta a fotógrafa.