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«Le Regard» de Jorge Feijão

20.03.2010

sábado, 0:00

 

A exposição integra três espaços expositivos: Galeria do CCC, Atelier-Museu António Duarte e Casa Bernardo e tem inaugurações marcadas para as 17h30 (CCC) e 21h30 (Casa Bernardo e Atelier-Museu António Duarte).

O nome ""Le Regard"" vai buscar uma ideia do ""olho de Deus"", não personificado ""mas como o olhar para a coisa infinita e que está inatingível"", como explicou Jorge Feijão. Uma dimensão que já não é visível.

A religiosidade é uma linha condutora desta exposição, que surge durante o período da Páscoa, embora não tenha sido previsto acontecer assim.

Segundo o artista, os temas religiosos têm surgido muitas vezes no seu trabalho. ""Não é por devoção. O que existe é uma contemplação desses temas, que estão muito presentes na nossa cultura. Quando era criança a minha primeira relação com imagens foi com as imagens da arte cristã"", revelou Jorge Feijão.

No museu António Duarte a organização dos trabalhos foi feita em função de uma temática em que a crucificação está no centro.

Estão representadas também a Paixão segundo São Mateus e segundo São João, acentuando uma ligação que existe em parte da sua obra aos Textos Sagrados. ""Há uma espécie de narrativa, mais ou menos evidente"", referiu.

Jorge Feijão há muito tempo que queria expor na sala de arte sacra do Museu António Duarte e quando pediu apoio ao Centro de Artes para a cedência de um atelier, foi-lhe proposto que em troca fizesse uma exposição.

""Tinha este desejo de pôr o meu trabalho a dialogar com a colecção de arte sacra daquele museu"", explicou o artista.

José Antunes, responsável do Centro de Artes, também queria que Jorge Feijão expusesse na sala de exposições do CCC e depois surgiu também a intenção do artista em abranger a Casa Bernardo, exactamente ""por ser uma casa"" e ter esse lado caseiro.

Com estes três locais, Jorge Feijão encarou a exposição ""Le Regard"" como um triângulo.

Seleccionado para os Prémios Celpa/Vieira da Silva em 2005 e EDP Novos Artistas também no mesmo ano, Jorge Feijão vence o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso / aquisição Taminvest, em 2007.

Após quase dois anos da sua última exposição individual, nesta mostra, apresentada simultaneamente em três lugares importantes para a geografia artística da cidade, Jorge Feijão mostra uma nova série de trabalhos sobre papel de média e grande dimensão, realizados entre 2008 e 2009 a que se junta um vídeo.

Com estes trabalhos poderão ainda ser vistas nos espaços obras de artista tão afastados programática e, em alguns casos temporalmente, como Felipe Feijão, João Paulo Feliciano, Pedro Bernardo, Paulo Quintas, Sara Costa Carvalho ou o anónimo do século XV que realizou um dos Cristos e um tríptico pertencentes à colecção de arte sacra do Atelier-Museu António Duarte.


Comentário de Celso Martins:
“Com esta opção por estes lugares específicos e pela presença de obras de outros autores, Feijão torna clara a intenção de confrontar a sua pintura com um espaço não neutral, submetendo-a a uma rede de contaminações e dando assim uma dupla atenção àquilo que é exterior e contextual em relação ao seu trabalho de pintor, de modo a forçar a obra a entender-se com o que cultural e afectivamente, a rodeia.

Esse aspecto é tanto mais importante quanto a série de 14 desenhos/pinturas agora mostrados dialogam com uma tradição associada à gestualidade em pintura que teve largo acolhimento em várias sensibilidades do modernismo nomeadamente nas suas declinações abstractas.

Das acções dos futuristas, do gesto associado ao automatismo psíquico dos surrealistas, passando pela gestualidade enquanto factor essencial na pintura de uma boa parte dos pintores da chamada escola de Nova Iorque ou do «taxisme» francês, o gesto pictórico, assumindo muito distintas formulações, transformou-se historicamente num índice existencial e num reflexo de subjectividade possível no domínio da pintura. Ao estabelecer este contexto expositivo para as obras, Feijão não nega necessariamente essa filiação, antes a reconduz para o exterior de uma pureza e autonomia que eram estruturantes em algumas dessas manifestações da pintura modernista.

Nestes trabalhos, Jorge Feijão perscruta essa noção enquanto crença mas também enquanto prática inquiridora dos limites da própria noção de pintura. Parte da sua capacidade de convocação vem significativamente daí: de uma restrita economia de meios (por exemplo pela ausência de outras cores que não o preto da tinta e o branco da superfície), de acções sobre a tela e da tenção rítmica que resulta dela. Porque essa opção pelo esparso, essa capacidade de tornar as zonas desabitadas da pintura tão significativas como aquelas sobre as quais se operou, é decisiva no dramatismo e intensidade de que ela vem investida.

Como experiência, meditação e ressonância o gesto surge-nos nestas pinturas como um «quase nada», na própria fronteira entre a não inscrição e a aparição de algo significativo. E esse é um modo de plantar algo fértil num território aparentemente árido.”


Esta exposição pode ser visitada de 2ª a 6ª feira, das 14h00 às 19h00, Sábados das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00 e aos domingos e feriados das 14h00 às 18h00."