NORTON

Quando “Layers”, última música de “Layers of Love United”, chega ao fim e o refrão nos continua a soar na cabeça e as palavras a saírem-nos da boca, assoma-se uma certeza: a nova etapa na carreira dos Norton pertence àquela categoria de discos intemporais. Daqueles que parece que sempre estiveram na nossa prateleira e a que voltamos uma e outra vez quase sem darmos por ela. Porque nos fazem falta!

Não há em nenhuma das canções nada que soe forçado, que esteja a mais. De “Two Points”, primeiro single e portento indie pop, a “Coastline”, crescendo viciante de guitarras e sintetizadores, com a voz planante a envolver tudo o resto, passando pela densidade de “Satellites” ou a dolência de “Japan”, e acabando na imbatível sequência de “Summer for Tomorrow”, “Into the Lights”, ”Layers”, tudo é imprescindível.

“Layers of Love United” é o reflexo de uma banda em mudança. De uma banda em que da mudança resulta luminosidade e... união! E será, pois, coesão a característica mais transversal a tudo o que envolve os Norton nesta fase. Um disco de uma coesão impressionante, num alinhamento que dificilmente poderia fazer mais sentido. Um coletivo que vai buscar à coesão entre os seus membros uma nova forma de construir as suas canções. Mais diretas, mais distintas. Se hoje se vive a era das canções avulso, os Norton fazem um ÁLBUM. Para ouvir da primeira à última música.


Depois de “Kersche”, anterior álbum de originais datado de 2007, há mudanças internas, com Pedro Afonso a assumir-se como voz principal e o guitarrista Manuel Simões como membro de corpo inteiro, mas também há um renovar da aposta na segurança da produção de Eduardo Vinhas, capaz de perceber que o caminho dos Norton se define pelas próprias canções, pelas suas texturas cada vez mais melodiosas e circulares, pela ingenuidade tão cativante dos pedacinhos de eletrónica que se entranham por todo o lado, pelas cascatas sónicas encaixadas numa secção rítmica que puxa para a pista de dança sempre que pode...

“Layers of Love United” é uma sensação de conforto. Chegar a casa e ouvir “aquele” disco, cantar “aquelas músicas”, lembrar “aquela” noite, “aquela” manhã, “aquela” tarde de sol abrasador dentro de um carro a tocar bateria no volante. É AMOR em formato canção.
Os Norton são: Rodolfo Matos, Pedro Afonso, Leonel Soares, Manuel Simões