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“Vale” com 53 caldenses numa experiência inédita no CCC

08.03.2010

segunda-feira, 0:00

Para os 53 participantes a experiência foi, sem dúvida, muito enriquecedora. Não só por poderem participar num espectáculo premiado pela Sociedade Portuguesa de Autores pela sua coreografia, mas também pelas relações humanas que se estabeleceram durante aqueles dias e por poderem conhecer o CCC de uma forma diferente.

Nas Caldas da Rainha tivemos um grupo muito interessante, com uma componente rica de idades. Desde meninas mais pequenas, passando por adolescentes e até alguns idosos”, referiu a Madalena Victorino, criadora do espectáculo.

Madalena Victorino defende que a arte deve ter um papel muito importante na vida das comunidades, das cidades e das aldeias. “Vale” surge como uma consolidação de uma série de ideias e projectos que desenvolveu no âmbito da arte comunitária.

A participação de amadores no CCC foi um recorde, em comparação com as apresentações feitas noutros teatros.

Durante três dias ensaiaram das 18 horas à meia-noite. Jantaram juntos no CCC e partilharam muitas experiências. No fim-de-semana ainda houve um ensaio geral e as duas apresentações. No domingo, havia cansaço, mas acima de tudo muita alegria e energia comum.

Mariana Silva, de 14 anos, já tem experiência nesta área porque faz parte de um grupo de Hip-Hop, mas gostou muito de poder aprender “outra forma de ver a Dança”. Para além de ter gostado muito de participar no espectáculo, sublinha que durante estes dias foram quase uma família.

Também com 14 anos, Jessica Silva contou que esta nova experiência foi muito boa. Foi a primeira vez que fez parte de um evento de Dança e era mesmo algo de diferente assim que procurava quando se inscreveu. Esta foi a primeira vez que esteve no CCC, mas agora faz questão de voltar para assistir a outros eventos.

Manuela Baroso, de 48 anos, é frequentadora habitual do CCC e com esta experiência pôde conhecer novos espaços no interior do Centro Cultural. Na sua opinião, esta é uma forma de aproximar a comunidade à cultura e ao CCC.

Foi uma experiência muito positiva e interessante. Foram dias muito intensos de relações humanas e também com mensagens muito fortes da Madalena Victorino para as pessoas”, disse.

Aos 73 anos, Victor Gancho conta já com muitas participações em eventos culturais, mas este foi algo de muito diferente. “Foi uma experiência magnífica”, revelou.

Amante do teatro, o caldense acha que é importante passar a mensagem de que todos devem frequentar o CCC. Não só pelas suas óptimas condições, mas principalmente para o que cada um tem a ganhar com uma vida cultural mais rica.

“Às vezes devem ser os mais velhos a trazer os mais novos. Ofereçam bilhetes aos filhos ou netos no aniversário, por exemplo, para despertar o interesse pelo Teatro”. Disse.

Eunice Quaresma tem 18 anos e é aluna da Escola de Dança Vocacional das Caldas da Rainha, mas desta vez decidiu participar ao lado de outras pessoas sem qualquer experiência. Ela e outras colegas da escola acharam que seria boa ideia participar, não só para o currículo mas também pela experiência em si. “Foi muito bom trabalhar com Madalena Victorino”, afirmou, acrescentando que todos se deram muito bem.

Para a própria Madalena Victorino este espectáculo nas Caldas da Rainha será memorável porque, devido à grande adesão e ao tamanho do palco, fez algumas novas coreografias.

Faz parte também do projecto uma aproximação da coreógrafa e dos intérpretes profissionais dos figurantes de cada localidade. Ao segundo dia Madalena Victorino já tinha decorado os nomes de todos. “É importante que quando estamos todos em palco as pessoas se sintam todas à vontade, satisfeitas e descontraídas”, explicou.

"Vale" é um projecto de criação artística regional, que parte do património dos lugares e das gentes do Vale do Tejo. Ao longo a apresentação são notórios os episódios roubados com os olhos a Alcanena, Montijo, Santarém e Sobral de Monte Agraço, que se compõem numa narrativa forte e fluida de movimentos musicais e movimentos ficcionados com os corpos e a sua voz.

"Nesta terra onde o rio é mar, aprendemos que a pele tem flor, que o gado tem vida de homem, que os lençóis são de água escura, que as pedras se rebentam para fazer nascer as oliveiras, que no tomilho poisam morcegos, que o vento lava, leva e traz", como explicou Madalena Victorino.

Em relação à distinção da Melhor Coreografia na primeira edição do Prémio Autores, da SPA e RTP, Madalena Victorino referiu que se sente muito orgulhosa, mas salienta que o prémio é para todos os que participaram.

“Vale” surgiu de um convite da Artemrede a Madalena Victorino, mas o sucesso tem sido tanto que já há mais espaços culturais fora desta rede interessados na sua apresentação. A nova digressão terá algumas datas em França, Espanha e Itália.