“Sombria é a vida, sombria é a morte. /O firmamento é azul para sempre, e a Terra /Será a mesma, e reverdecerá na primavera/Esvaziai as vossas taças de ouro até à última gota!”
Numa época tão sombria, a Temporada Darcos apresenta A Canção da Terra, uma das obras mais inspiradoras de Gustav Mahler. Em 1908, abalado pela morte da filha e confrontado com uma doença cardíaca incurável, Mahler vivia um dos períodos mais negros da sua vida. E, apesar das circunstâncias, escrevia a Bruno Walter: “arrasta-me, porém, um amor pela vida completamente novo e mais intenso que nunca”. Num momento de profunda meditação sobre a morte, compunha uma sinfonia para tenor, contralto e orquestra sobre poemas chineses antigos traduzidos para alemão que refletem um amor infinito pela Terra, o prazer da contemplação da Natureza, a beleza da vida e da juventude, filtrados pela consciência do adeus e da morte iminente. Mahler encontrou na poesia chinesa o que procurava nos poemas populares alemães. O arranjo de Reinbert de Leeuw, maestro e compositor holandês falecido em fevereiro de 2020 consegue, numa versão para quinze instrumentistas, manter as sonoridades e a força completa da partitura original de Mahler. Os aclamados cantores portugueses Cátia Moreso e Marco Alves dos Santos, assumem respectivamente o contralto e o tenor. Ao tenor, Mahler atribuiu os andamentos mais expansivos e turbulentos, ao contralto de timbre escuro, os mais suaves e melancólicos e a despedida (“Der Abschied”).