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M/6

9 Out. 21:30

António Zambujo | Voz e Violão

Bilhete 1ª e 2ª Plateia: 20€
Bilhete Tribuna e Camarote: 15€
Pack 2 bilhetes: 35€ *apenas plateia
António Zambujo Voz e Violão

Um dia, num qualquer futuro mais ou menos distante, dir-se-á que este disco é um dos mais importantes da carreira de António Zambujo. Não por se julgarem menores alguns dos álbuns que o antecederam e ainda menos pela qualidade de todas as canções que ainda não compôs ou deu voz. Simplesmente porque “Voz e Violão” será sempre associado a um tempo que nos provou o quanto somos frágeis e o quanto precisamos de nos repensar numa urgência do que é essencial.

O último trabalho de António Zambujo tem a marca dessa urgência. O que somos, o que de nós fica, se nos libertarmos de toda a carga? O que somos, o que de nós fica, se procurarmos o despojamento e o sentido do que nos move, do que é importante e menos importante, da procura do que nos faz únicos, mas ainda assim parte de um todo?

“Voz e Violão” é tudo isso. Representa um sentimento de pertença ao país que continua a ser a sua casa de partida, mas também de viagem, de descoberta, inevitavelmente de encontro com outras línguas, culturas, pessoas. As suas canções unem mundos e tornam possível um concílio entre o que antes parecia impossível de conciliar. Zambujo faz do que canta uma marca do que foi o seu caminho: das planícies alentejanas que o moldaram ao cosmopolitismo que solidamente construiu está também o antivírus para o que este tempo trouxe de lodo, de ressentimento, de medo do que é diferente, de xenofobia, de radicalismo.

A música de António Zambujo é tudo isso.

E apenas com o seu violão, despojado de mais vida, oferece-nos um grito silencioso feito de palavras que nos obrigam a ser gente, que nos obrigam a não desistir de acreditar que atrás das nossas portas fechadas continua a existir mundo, continuam a existir pessoas que podemos amar, continua a existir memória, falha, convicção e novas ideias.

António Zambujo não precisa de ser adjetivado. Ele diz as palavras como se elas lhe pertencessem por inteiro. Como se mais ninguém as tivesse dito antes. Quando ele canta “amor” é uma sinfonia que lhe sai da boca, é como aqueles cozinhados da infância em que o sabor nunca nos sai do paladar mesmo que dele não nos lembremos. Ouvi-lo neste seu último disco apazigua-nos sem nos adormecer. Não é um apaziguamento que nos livra da inquietude e ainda menos um mar calmo que nos condena à alegria ou a bacocas promessas de felicidade. Neste disco – e em todos os álbuns de Zambujo – não se sai da mesma maneira. Que melhor definição de arte podemos encontrar do que essa? Sobretudo numa altura em que na música, na literatura ou no cinema o que é lido, visto e ouvido tem a marca da previsibilidade, da ausência de surpresa, do divertimento sem mais.

A sua voz é um passaporte, uma chave-mestra, um ponto de encontro. Ouvimos o cisma e o cante alentejano, ouvimos o fado e a MPB, ouvimos mornas e somos testemunhas do milagre de transformar o que canta numa nova pertença. Interpreta Nat King Cole sem nunca perder a essência do que é ou defraudar o espírito dos que combateram sempre, como Cole, todas as formas de racismo. António Zambujo incorpora o que lhe é diferente sem nunca deixar de ser ele, quase como se tivesse o poder, a magia, de conseguir tornar todos os estilos de música num único, o seu.


“Voz e Violão” sucede ao aclamado “Do Avesso”.

Um dia, num futuro mais ou menos distante, alguém dirá que é um álbum de transição. Um trabalho que existe apenas para permitir que António nos possa bater à porta de casa e entrar sem máscara e sem máscaras. Bater à nossa porta e connosco beber um copo de vinho e cantar palavras tranquilas e inquietas.

Canções de amor perdido e recomeço – com um “Lote B”, escrito por Pedro da Silva Martins, que será cantado em todas as ruas onde possa existir um desencontro sem deixar de existir futuro.

Canções de infância e juventude – com uma “visita de estudo” que ficará para a sua história num poema de uma admirável simplicidade de Maria do Rosário Pedreira. Canções em que canta sobre o envelhecimento – extraordinário como ele é uma mulher quando canta sem nunca deixar de ser homem.

Canções em que “desaparafusa a vida” com a simplicidade dos grandes.

Apenas ele e o violão mais os poemas que canta – onde se destaca também Miguel Araújo com “Pião de Corda” ou o seu filho Diogo que nos propõe olhar o universo de uma outra forma.

Apenas ele e o violão mais a “Rosinha dos Limões” que diz como ninguém. Ou a revisitação que faz de três ou quatro temas que ouvimos noutras vozes.

Interessante que a última canção seja “Adeus Parceiros das Farras (Mascarenhas Barreto e António Santos), tema que António Zambujo canta como uma oração, quase num pranto imperfeito que ele torna – ou eu imagino que torna – numa prece pelos que se perderam neste tempo que aqui ficará plasmado.

Escrevo estas linhas enquanto o oiço.

E estou grato pelo privilégio de me ter tocado à porta e entrado mais o seu violão e as palavras que diz como se mais ninguém antes as tivesse dito.

António Zambujo | Nota biográfica

Nascido em Beja, a 19 de Setembro de 1975, António Zambujo é um dos maiores artistas, autores e intérpretes contemporâneos da música e da língua portuguesas, e um dos seus mais notáveis embaixadores no mundo.

Ao nono álbum, oitavo de originais, “ António Zambujo Voz e Violão”, o músico inspira-se no nome de um dos discos da sua (e da nossa) vida, “João Voz e Violão”, álbum de João Gilberto editado em 1999, e volta, nada acidentalmente, ao essencial. Como escreveu o jornalista Luís Osório: «Um dia, num qualquer futuro mais ou menos distante, dir-se-á que este disco é um dos mais importantes da carreira de António Zambujo. Não por se julgarem menores alguns dos álbuns que o antecederam e ainda menos pela qualidade de todas as canções que ainda não compôs ou deu voz. Simplesmente porque “Voz e Violão” será sempre associado a um tempo que nos provou o quanto somos frágeis e o quanto precisamos de nos repensar numa urgência do que é essencial.».

António Zambujo incorporou as influências do cancioneiro brasileiro, em particular da Bossa Nova, na sua música, primeiro forjada na tradição do Cante Alentejano e do Fado, de onde partiu para criar uma personalidade única, inspirando um novo ciclo na música portuguesa, ao mesmo tempo que derruba fronteiras, reais ou imaginárias, aproximando os dois lados do Atlântico. Na sua discografia, “Até Pensei Que Fosse Minha”, o álbum de tributo a Chico Buarque que editou em 2016 e que lhe valeu inclusivamente a nomeação para o Grammy Latino no ano seguinte, na categoria de Melhor Disco de MPB, não causou por isso estranheza.

Também não pareceu bizarro que em finais de 2018 tenha chamado “Do Avesso” ao novo álbum de originais, em que voltou a reinventar-se, recorrendo à participação da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, e que acabaria por ser distinguido com o Prémio José Afonso 2019. O júri considerou que “Do Avesso” representava «não só a continuação do percurso extremamente coerente de António Zambujo, mas também um ponto alto pela confirmação das suas qualidades interpretativas e a grande inspiração criativa que revela» e acrescentou ainda que «cada canção de Zambujo conta uma história, e cada álbum é, em si, uma história, na linha de José Afonso, para quem a música estava intrinsecamente ligada quer à sua vida interior, quer às circunstâncias do mundo em que viveu». E são vários os capítulos anteriores desta obra que António Zambujo vem criando, desde a estreia em 2002 com “O Mesmo Fado”, seguido de “Por Meu Cante” (2004), “Outro Sentido” (2009), “Guia” (2010), “Quinto” (2012), e “Rua da Emenda” (2014).

Na infância passada no Alentejo, António Zambujo cresceu com forte ligação à música - começou por estudar clarinete com apenas 8 anos, mas foi sobretudo a tradição viva do Cante Alentejano e do Fado que o fizeram músico. Acabando por fixar-se em Lisboa, onde começou por dividir o tempo entre a experiência diária do Fado e a participação em musicais, vai trilhando um impressionante caminho, marcado por prémios e distinções, com destaque para a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi entregue pelo Presidente da República, em 2015.

Há poucos lugares no planeta que não tiveram ainda o privilégio de já terem ouvido a Voz de António Zambujo ao vivo. Com tantos mundos dentro do seu mundo, quer se apresente rodeado de músicos ou apenas acompanhado pela sua guitarra, como teremos agora a oportunidade de assistir nos concertos de “António Zambujo Voz e Violão”, é sempre, como disse Caetano Veloso, 7 álbuns antes, “de arrepiar e fazer chorar”.