Concerto pela Orquestra Gulbenkian - Ludwig van Beethoven - Sinfonia n.º 1, em Dó maior, op. 21
22.09.2017
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Ludwig van Beethoven
Sinfonia n.º 1, em Dó maior, op. 21
Paradigma da herança cultural europeia, o corpus de sinfonias de Beethoven reveste-se de um significado axiomático para a plena compreensão das transformações musicais que ocorreram durante o Classicismo e primeiras décadas do Romantismo, ajudando também a perspetivar variadas linhas de fundo que se vieram a concretizar ulteriormente, tanto no plano concreto da criação musical sinfónica, como no plano das ideias e mentalidades próprias de uma era marcada pelo conflito, pelo racionalismo e pela inovação técnica e industrial.
Quando Beethoven concluiu a sua primeira sinfonia, em Abril de 1800, a história do género conhecia ainda um percurso relativamente breve, indissociavelmente ligado aos vultos de Giovanni Battista Sammartini, Johann Stamitz, Mattias Georg Moon, Johann Baptist Vanhal, Joseph Haydn e Wolfgang Amadeus Mozart, entre muitos outros compositores. Torna-se pois compreensível que as linhas formais e estilísticas emergentes nesta obra pioneira tenham a ver essencialmente com a herança deixada pelos seus mais diretos predecessores na denominada Escola de Viena e reflitam, por consequência, os mesmos ideais de proporção e uma similar orientação temática e harmónica.
A estreia da Sinfonia n.º 1, op. 21, teve lugar no Teatro Imperial de Viena, a 2 de Abril de 1800, sob a direção do compositor. A sua receção traduziu-se por um misto de admiração e desagrado, ante uma linguagem orquestral que, em alguns momentos, desafiava abertamente os gostos instituídos. O crítico do Allgemeine Musikalische Zeitung começa por considerar a obra possuidora de “arte considerável, inovação e riqueza de ideias musicais”, mas logo em seguida, aponta o “excesso de sopros” que, no seu entender, dava mais a impressão de se tratar de “música militar” do que de “música para orquestra propriamente dita”. Para o concerto, o compositor contratou os cerca de quarenta elementos da orquestra do Teatro de Ópera italiana de Viena, um agrupamento que, apesar da sua experiência, padecia de imagem conflituosa, devido às permanentes disputas internas sobre quem deveria assumir a direção dos naipes. A avaliar pelas palavras do mesmo crítico, os problemas de coordenação e disciplina assomaram publicamente, pois “perante tal comportamento, de que serve toda a inegável proficiência dos membros deste grupo? Sob tais circunstâncias como pode produzir efeito mesmo a mais excelente das composições?”.
Apesar da estreia pouco auspiciosa, a Sinfonia n.º 1 impôs-se rapidamente no repertório, logo após a sua publicação no ano seguinte. A dedicatória foi dirigida ao Barão Gottfried van Swieten, diretor da Biblioteca Imperial e personalidade destacada da vida musical vienense.
Notas de Rui Cabral Lopes