O grande romance de Tolstoy, Guerra e Paz, é o mote deste recital, que se divide entre duas grandes obras: Por um caminho frondoso, de Leoš Janáček, exploração metafórica do mundo interior do compositor, escrita em tempos de paz mas terminada pouco tempo antes da 1ª Guerra Mundial, e a 6ª Sonata de Prokofiev, já escrita durante a 2ª Guerra Mundial e a primeira da trilogia conhecida como “Sonatas de Guerra”, obra que parece anunciar a invasão da Rússia no ano seguinte.
Pelo meio, uma raridade: a única música escrita por Tolstoy – compositor nas horas vagas – que chegou até nós, uma singela valsa que espelha o grande período de paz europeia vivida entre a morte de Napoleão e as convulsões do século XX, dança que domina os bailes cortesãos da primeira parte de Guerra e Paz.
Tolstoy foi uma enorme inspiração para Janáček, admirador da cultura russa, que sobre a novela Sonata a Kreutzer modelou o seu primeiro quarteto de cordas, e para Prokofiev que, sobre Guerra e Paz baseou a sua maior ópera, grande fresco épico que retrata a brutal invasão da Rússia pelas tropas napoleónicas em 1812. Com Guerra e Paz a Humanidade experimenta, pela primeira vez, como refere o escritor checo Milan Kundera, um sentimento até aí desconhecido: “pela primeira vez na História do Romance, o Homem é levado pela força da História e deixa de ser dono do seu destino”.